Texto originalmente publicado na revista Nintendo World 169 |
Que atire a primeira pedra aquele que não fez pouco caso da Big N na última E3 quando o pueril Nintendo Land foi anunciado como carro-chefe da conferência, frustrando a todos que esperavam por um jogo arrasa-quarteirões. E que atire a primeira Gossip Stone aquele que, nos saudosos tempos do GameCube, não torceu o nariz ao assistir o anúncio de The Legend of Zelda: The Wind Waker que apresentava um Link cartunesco, rotulando o novo visual da série como algo “infantil demais”.
Não vou mentir para vocês, já fiz parte do grupo dos reclamões. Eu sei, eu sei, que vergonha! Mas até mesmo por isso posso afirmar que não poderia estar mais equivocado, pois basta jogar um pouquinho desses jogos incríveis para descobrir que se tratam de títulos surpreendentes, inovadores e, acima de tudo, divertidos. E nos divertir não é exatamente a principal razão para um videogame existir?
Um toque mágico
Nós mudamos conforme envelhecemos e o mesmo pode-se dizer dos videogames, já que a indústria passou por grandes transformações, vivendo hoje sua fase mais “adulta”. Como tal, surge a cobrança por jogos com cada vez mais realismo, gráficos elaborados e conteúdo maduro, como nas populares franquias Call of Duty e Assassin’s Creed. No entanto, até a chegada do Wii U, a Nintendo pareceu um tanto desinteressada nessa fatia do mercado, o que acabou lhe rendendo a fama de casual e infantil.Mesmo aqueles que acabaram se frustrando com isso e abraçando o lado negro da força concordam que as grandes franquias da Big N como Mario, Zelda, Donkey Kong e Pokémon, você sabe, aqueles jogos só um pouquinho famosos e cultuados, além de não contarem com palavrões ou com uma gota de sangue sequer, sempre foram diferenciados da concorrência, entregando ao jogador algo único e impossível de reproduzir. “Magia nintendista” ou “Benção de São Miyamoto”, chame como quiser, o fato é que esse toque que a Nintendo coloca em todos os seus jogos é capaz de cativar qualquer um, independente de sua faixa etária.
Nesse sentido, a Nintendo possui muitas similaridades com uma outra companhia também muito respeitada por seu universo apaixonante e pelos seus filmes feitos com carinho para toda a família. Estou falando da Disney, é claro. Afinal, ambas as empresas são conhecidas por suas obras de extremo bom gosto, qualidade técnica impecável e, acima de tudo, as duas sabem como ninguém dialogar com com o público infantil, sejam elas realmente infantes ou marmanjos que sabiamente não renegaram sua criança interior.
Não foram poucas as ocasiões em que os universos da Disney e dos videogames andaram de mãos dadas. Sei que você está pensando na fantástica série Kingdom Hearts, mas como o nosso espaço aqui é sobre jogos clássicos, vou focar nos ótimos games que a companhia lançou nas gerações 8 e 16 bits em parceria com grandes desenvolvedoras como a Capcom e a SEGA. Jogos que, apesar de seu teor aparentemente infantil, apresentavam um lindo visual, controles excelentes, músicas viciantes e até mesmo um grau elevado de desafio, capaz de botar muito homem barbado para correr. Estou olhando para você, terceira fase de The Lion King!
Diversão remasterizada
Já imaginou quanta diversão não teríamos perdido se deixássemos jogos de lado simplesmente porque eles são adaptações de filmes para crianças ou porque parecem infantis demais? Se nunca devemos julgar um livro pela capa, certamente também não devemos julgar cartuchos por suas etiquetas, não é mesmo? Felizmente, os ótimos jogos que a Disney lançou nas décadas de 1980 e 1990 receberam o devido reconhecimento, e até hoje causam boas lembranças e divertem imensamente os jogadores, como pudemos observar muito bem na revelação de dois games:Um tempinho atrás o Ministério da Justiça acabou revelando acidentalmente que Castle of Illusion: Starring Mickey Mouse, grande clássico de plataforma do Mega Drive, pode estar prestes a ser relançado. A própria SEGA havia realizado o pedido de classificação indicativa do título, dando toda pinta de que o jogo original está a caminho do Virtual Console. Foi o suficiente para deixar todo mundo feliz e morrendo de vontade de ajudar Mickey a resgatar Minnie das garras da maléfica bruxa Mizrabel mais uma vez.
A mesma alegria tomou nossos corações quando a Capcom anunciou de surpresa, assim como quem não quer nada, que DuckTales Remastered, uma nova versão de um dos jogos mais celebrados e queridos do Nintendinho, estava sendo desenvolvida para o Wii U e seria lançada no verão de 2013 nos Estados Unidos (ou inverno para a nossa galera tupiniquim). Todos os jogadores foram à loucura nas redes sociais e fóruns de discussão, cantando em uníssono a música tema do desenho animado.
Mas como explicar que, num mundo aparentemente dominado por jogos de tiro em primeira pessoa e gráficos ultrarrealistas, dois jogos tão simples, inocentes e teoricamente infantis estejam recebendo carinho e respeito universal? Você tem alguma teoria?
Só importa se divertir
Independente de seu público alvo, se um jogo for bem desenvolvido e se revelar interessante o suficiente, ele tem sempre potencial para se tornar referência de qualidade. Quando os DuckTales e Castle of Illusion originais foram lançados, o mercado não era dividido entre jogos casuais e hardcore, adultos e infantis, mas tão somente entre jogos bons e ruins. Esses games dividiam o mesmo espaço nas prateleiras que jogos de dificuldade brutal como Mega Man, Contra e Battletoads, os grandes queridinhos dos adultos na época. Esses relançamentos deveriam servir como um lembrete de que nem tudo que é infantil é infantiloide, do mesmo modo que nem tudo que é adulto é maduro.Então que tal se, ao invés de afastarmos jogos simplesmente por considerá-los infantis demais, tomarmos o caminho inverso? Por mais que você não seja um Kokiri, é sempre possível encontrar sua criança interior e redescobrir o quanto os videogames podem ser mágicos. Se permita ser jovem, largue o cinismo e jogue videogames para se divertir. E aí, quem sabe, o mundo não fica um pouco mais colorido de novo?
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